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    segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

    Entrevista com Violeta Refkalefsky Loureiro, autora do livro "A AMAZÔNIA NO SÉCULO XXI"

    1.Assistimos na 15ª Conferência da Convenção do Clima, em Copenhague, a uma série de desacordos e posições preocupantes quanto às mudanças climáticas. No caso da Amazônia, em que sentido isso pode prejudicar a região?

    R: O fracasso da COP 15 pode se refletir em prejuízos para todo o planeta e não apenas para a Amazônia. Deixou a sensação de que a situação climática do planeta não é tão grave quanto dizem os ecologistas, tanto assim que os grandes países não se constrangeram em sair da Conferência sem propostas concretas, como se a questão climática se tratasse de algo possível de ser adiada para o futuro. No caso específico da Amazônia, essa postura equivocada, certamente, tornará mais difícil o combate ao desmatamento.

    2 - A seu ver, qual a razão de os países desenvolvidos não sinalizarem com uma proposição concreta de redução de emissões de gases de efeito estufa?


    R: Os governantes, em geral, não gostam de assumir compromissos nem fazer projetos que ultrapassem a duração dos seus governos. Eles se empenham em obras de curta ou média duração e que se reflitam em votos; criar restrições, impor medidas, exigir o cumprimento delas não é simpático para o governante. Some-se a isto o fato de que os países centrais estão se recuperando lentamente da crise financeira americana, que os abalou e gerou altos índices de desemprego. No caso da China e da Índia, esses países começaram agora seu processo de crescimento econômico. Mudar os sistemas de produção antiquados e poluidores e o próprio produto (como os carros americanos), acarretará despesas e descontentamento junto a um empresariado que nunca teve muita preocupação com o meio ambiente e sim com as finanças de suas empresas específicas. Os governantes preferiram, então, não se comprometer porque isto, politicamente, não é interessante para eles no momento; que seu sucessor tome essas medidas e o planeta que espere... e que dê seu jeito de sobreviver.

    3 - Que posição o Brasil deveria assumir para que os outros países chegassem a um consenso? O país tem condições de encabeçar uma mudança de paradigma?

    R: O Brasil teve uma atitude corajosa e até mesmo surpreendente, já que antes dos seus representantes embarcarem para Copenhague havia um desacordo visível entre o setor produtivo e o ambiental. Depois que o próprio Presidente Lula se convenceu da gravidade da questão ambiental, sua liderança se estendeu por dois campos: o convencimento dos membros da delegação brasileira a assumirem uma postura única e em favor do meio ambiente e na Conferência, onde sua presença e posição foram notáveis e chamaram a atenção do mundo. Só não concordo com a promessa do Brasil entrar com dinheiro para um fundo internacional de proteção ao meio ambiente. Esse dinheiro poderia ser mais bem utilizado internamente no saneamento de nossas cidades, na despoluição dos rios urbanos e no combate ao desmatamento. Ele quis fazer um gesto simbólico para constranger os demais países a tomarem uma posição, mas penso que esse dinheiro não deveria sair do país.







    4 - Em 2012 o Protocolo de Kyoto irá expirar, quais deveriam ser as novas prerrogativas que os países deveriam seguir para conter o aquecimento global?
    R: O Protocolo de Kyoto é um acordo internacional (assinado em 1997) visando diminuir consideravelmente a emissão de gases que provocam ou agravam o efeito estufa e o aquecimento global (especialmente o petróleo e seus derivados e o carvão). Os países signatários discutiram e quase todos acordaram metas de redução desses gases; as metas não são idênticas, variando de país para país. Ocorre que os países que mais poluem não assinaram plenamente os termos ou tratados (é o caso dos Estados Unidos); outros são grandes poluidores, mas como se encontram em fase de crescimento e alegaram isso, não acordaram metas de redução. É o caso da Índia. E muitos que acordaram e assinaram não cumpriram as metas. Portanto, creio que o que acontecerá até 2012 será um balanço mundial da questão ambiental e em 2012 o que, provavelmente ocorrerá, é a assinatura de um adendo ao Protocolo com novas metas ou algo do gênero. Isto porque do Protocolo aos dias atuais a situação só se agravou, exceto na União Européia, que parece realmente estar preocupada e sensibilizada para a questão ambiental.

    5 - Qual a importância da Amazônia nesse contexto que se avizinha?
    O governo brasileiro conseguiu, através de uma fiscalização mais rigorosa, diminuir os índices de desmatamento no país. Entre 1996 e 2005 a média anual do desmatamento era de quase 20 mil km2; caiu para mais ou menos a metade. Ocorre que na Amazônia a redução foi muito menor do que a média brasileira. Por isso, apesar da diminuição, ainda se queima muito. E o problema na Amazônia é mais grave do que em outras regiões do País porque os solos da região são muito pobres. O desmatamento, aliado às chuvas pesadas, provoca a desertificação. É preciso compreender que a rica floresta que nós temos levou milhares de anos para se formar em cima deste solo pobre. Mesmo quando na refloresta ( com espécies de crescimento rápido) há uma perda enorme de biodiversidade. Portanto, o que se tem que fazer na Amazônia é muita pesquisa para aproveitar os produtos da floresta, mantendo o máximo de floresta em pé.

    6 - O Brasil terá condições de negociar em benefício da Amazônia, sem diminuir seu processo desenvolvimentista?
    Desenvolvimento é um processo amplo e profundo em que há uma melhoria das condições de vida para a população em geral. O que está acontecendo na Amazônia não é desenvolvimento. São duas coisas combinadas: degradação da natureza e crescimento econômico. O crescimento do PIB vem acontecendo sem distribuição de renda, ou seja, uns poucos ficam muito ricos e milhares ficam pobres ou miseráveis. O dito crescimento ocorre de duas maneiras básicas: através de grandes enclaves que produzem ferro em lingote, alumina em lingote e outros minerais semi-elaborados e que por isto geram pouquíssimos empregos. Outra fonte do crescimento é a exportação de madeiras e a criação de gado, ambas com desmatamento e ambas sem reflorestamento. É um engano pensar que o desmatamento é necessário ao desenvolvimento e que diminuí-lo reduzirá o crescimento. Se olharmos os dados de municípios amazônicos muito devastados, como Tailândia, por exemplo, você vai verificar que, depois do desmatamento (a madeira acaba em mais ou menos 5 anos apenas), o município entra em crise econômica e não consegue mais sair dela porque tudo é terra arrasada e empobrecida. O desmatamento deixa atrás de si apenas miséria e natureza devastada. Mesmo um município com um dos maiores PIBs per capita – Belém – é uma terra de pobres e miseráveis. Se você for ver a renda da população, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar/IBGE/2007, você vai constatar que 47% da população tinha uma renda inferior a meio salário mínimo. Então eu pergunto: isto pode ser chamado de desenvolvimento?Só haverá desenvolvimento, de fato, se houver investimentos maciços em pesquisa para o aproveitamento da floresta, para a produção de fármacos, de cosméticos, de produtos químicos, tudo isto mantendo o máximo de floresta em pé. Aí se criará muitos empregos e a renda será distribuída entre muitos. Aí teremos, realmente, um processo de desenvolvimento sustentável e duradouro.

    7. Então, por que razão os empresários e os governantes reclamam que a proteção ao meio-ambiente na Amazônia comprometerá o processo de desenvolvimento?
    Por uma razão muito simples, mas somente perceptível, por quem trabalha nos governos estaduais ou municipais. Há uma forte aliança entre governos e empresários, mesmo com aqueles que cortam e vendem madeira de áreas de conservação ambiental. Não é por causa de recolhimento de impostos que os governos protegem madeireiros, criadores de gado em áreas desmatadas, siderúrgicas que compram carvão vegetal de floresta nativa. A exportação para o exterior é isenta de impostos desde o governo Fernando Henrique e a exportação para outros estados, se for fiscalizada, vai gerar multa pelas irregularidades encontradas na produção e não impostos recolhidos. Ocorre que são empresários que mantêm os fundos de campanhas de governos estaduais e municipais em praticamente todo o Brasil. A Amazônia não foge à regra. Daí o interesse de ambos – dos empresários, porque acumulam riqueza a custa de uma natureza pela qual ele não paga nada, que lhe sai a custo zero; e os governos, porque se beneficiam em suas campanhas políticas. Esse tipo de aliança é tão antiga quanto o Brasil República, infelizmente.


    sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

    "A COP 15 encerrou num impasse. O futuro do planeta, as mudanças climáticas, os perigos para o ecossistema mundial, no caso específico do Brasil, a Amazônia com todas suas especificidades, continuam em risco. Só atitudes concretas poderão criar um futuro melhor e mais consciente para todos."